A Ascensão de Hórus - Capítulo I

De Dan Abnett. Original aqui (ePub) e aqui (Mobi).

"Eu estava lá", disse após um tempo, quando não mais se ouviam as risadas. "Eu estava lá quando Hórus matou o Imperador". Era, sem dúvida, uma ideia fascinante, e seus companheiros divertiam-se com seu absurdo.

A história era das boas. Torgaddon normalmente seria aquele que o convencia a contá-la, porque Torgaddon era o brincalhão, sujeito de risadas altas e brincadeiras idiotas. E Loken a contaria novamente, uma história há tanto repetida que quase se contava sozinha. 

Loken preocupava-se que sua audiência compreendesse a ironia em sua narrativa. Era como se sentisse culpado por sua familiaridade com a questão, pois fora um caso de sangue derramado por desentendimento. Havia uma grande tragédia implícita na história do assassino do Imperador, que Loken queria que seus ouvintes apreciassem. Mas era a morte de Sejanus que normalmente chamava a atenção deles.

Sem contar o desfecho.


Teria ocorrido, como atestam os horológios, no ducentésimo terceiro ano da Grande Cruzada. Loken sempre ancorava a história no lugar e no tempo exato. O Comandante era Mestre da Guerra há cerca de um ano, desde a triunfante conclusão da campanha de Ullanor, e ansiava em consolidar a nova posição, sobretudo aos olhos dos irmãos.


Mestre da Guerra. Um título grandioso, mas recente e artificial.


Eram tempos estranhos para expandir-se através das estrelas; eles o faziam há dois séculos, mas agora era diferente. Era um novo começo. E igualmente um fim.


As naves da 63ª Expedição chegaram por acaso ao Imperium. Uma repentina tempestade etérica, posteriormente considerada providencial por Maloghurst, provocou-lhes a alteração na rota, e a frota adentrou as fronteiras de um sistema composto por nove planetas.


Nove planetas em volta de um sol amarelo.


Detectando grandes belonaves nos limites de seu sistema, o Imperador exigiu conhecer os tripulantes, assim como seu propósito ali. Então corrigiu-lhes, magnânimo, os equívocos que acreditava haver nas respostas dos visitantes.


Em seguida, exigiu-lhes obediência.


Era, conforme explicara, o Imperador da Humanidade. Tinha conduzido seu povo estoicamente através de eras de tempestades empíreas, por toda a Era do Conflito, mantendo firmemente as leis do homem. Era o que se esperava dele, declarou. Manteve viva a chama da cultura humana apesar de todo o isolamento da Velha Noite. Alimentou e preservou este precioso fragmento, até que algumas das diásporas humanas restabelecesse contato. Regozijava que aquilo ocorria naquele momento; sua alma folgava em ver naves órfãs retornando ao coração do Imperium, que esperava-lhes de braços abertos. Tudo fora preservado; os órfãos seriam acolhidos em seu seio, e o Grande Plano de reconstrução se iniciaria, espalhando o Imperium da Humanidade novamente através do espaço, como era de direito.


Assim que eles jurassem-lhe obediência, visto que era o Imperador. Da Humanidade.


O Comandante, um tanto curioso, enviou Hastur Sejanus para cumprimentar o Imperador. Sejanus era seu favorito. Não era orgulhoso ou irascível como Abaddon, impiedoso como Sedirae, nem sólido e experiente quanto Iacton Qruze; era o capitão perfeito, temperante em todos os aspectos. Guerreiro e diplomata em igual medida, suas conquistas bélicas, comparáveis apenas com as de Abaddon, eram facilmente esquecidas diante dele; "um belo homem", dizia Loken em sua história, "um belo homem amado por todos".


"Não havia ninguém melhor em uma couraça Mark IV do que Hastur Sejanus. Só o fato de ainda ser lembrado, e de ter seus feitos 
por nós celebrados comprova suas qualidades. O maior herói da Grande Cruzada" - assim Loken o descrevia para os ávidos ouvintes. "No futuro, será lembrado com tanto afeto que os homens darão seu nome aos filhos".

Sejanus, acompanhado com os melhores homens da Quarta Companhia, navegou em uma nave dourada, e foi recebido pelo Imperador em seu palácio no terceiro planeta.


E morto.


Assassinado. Abatido no piso de ônix do palácio, diante do trono dourado do Imperador. Sejanus e seu séquito - Dymos, Malsandar, Gorthoi e outros - assassinados pela guarda de honra do Imperador, os Invisíveis.


Aparentemente, Sejanus não jurou-lhe lealdade. Indelicadamente, insinuou que poderia haver outro Imperador.


A tristeza do Comandante foi implacável. Ele amava Sejanus como a um filho. Eles lutaram ombro a ombro na pacificação de centenas de mundos. Mesmo assim, o Comandante, versado em tais questões, disse aos seus homens que ofereceria outra chance ao Imperador. O Comandante abominava recorrer à guerra, sempre buscando alternativas à violência. Era um erro, ele bem sabia, um terrível erro. A paz poderia ser preservada. Este "Imperador" poderia ser convencido.


A partir dali, ao mencionar o nome do "Imperador", Loken acrescentava um gesto simbolizando aspas.


Uma segunda delegação foi enviada. Maloghurst voluntariou-se desta vez. O Comandante concordou, mas ordenou que a vanguarda ficasse em posição. Sua estratégia era clara: uma mão aberta, em sinal de paz, e a outra cerrada. Se a segunda missão falhasse, ou fosse recebida com hostilidade, o punho estaria pronto para atacar. Naquele dia sombrio, disse Loken, a honra de ingressar na vanguarda foi dada por sorteio às forças de Abaddon, Torgaddon, do "Pequeno Hórus" Aximand, e às tropas do próprio Loken.

Dada a ordem, começaram os preparativos. As naves da ponta de lança avançaram sob cobertura. A bordo, Stormbirds ocupavam as plataformas de lançamento, armas inspecionadas e certificadas. Juras de momento feitas e devidamente testemunhadas. Armaduras cingidas sobre os corpos consagrados dos escolhidos.

Em silêncio, prontos para agir, a vanguarda observou os transportes que conduziam Maloghurst e sua delegação sobrevoar o terceiro planeta. Mal penetraram a atmosfera, a frota do "Imperador" emergiu do oceano, rompeu o manto das nuvens, ou deixou a gravidade artificial das luas próximas. Seiscentas belonaves, fortemente armadas.


Abaddon quebrou o silêncio e fez um apelo final ao "Imperador", tentando fazê-lo entender. As naves começaram a atirar na frota de Abaddon.


"Meu Comandante", Abaddon transmitiu à retaguarda da expedição. "Não há negociação. Este impostor não dará ouvidos".


Então o Comandante respondeu: "Ilumine-o, meu filho, mas poupe aqueles que puder. Entretanto, vingue o sangue derramado pelo meu nobre Sejanus. Extermine os assassinos do "Imperador", e traga-me o impostor".


"E assim", suspirava Loken, "combatemos irmãos perdidos pela ignorância".


Era tarde da noite, mas o céu estava saturado por luzes. As torres fototrópicas da Cidade Alta, construídas para direcionar as janelas para o sol durante o dia, giravam inquietas ante a radiação pulsante no firmamento. Silhuetas espectrais deslizavam pela alta atmosfera: naves batendo-se massivamente, desenhando estranhas constelações com o fulgor das armas.


No chão, nas plataformas de basalto aos pés do palácio, tiros rasgavam o ar como uma chuva horizontal, rastros incandescentes que mergulhavam e emergiam como serpentes, rajadas de energia que desapareciam tão rápido quanto surgiam; as cápsulas, por sua vez, fustigavam o solo como granizo. Stormbirds abatidos, alguns ainda em chamas, espalhados ao longo de vinte quilômetros quadrados de terreno.


Figuras humanoides de preto caminhavam lentamente nos arredores. Pareciam homens de armadura, mas eram gigantes de 140 metros de altura. O Mechanicum enviara meia dúzia de Titãs, que marchavam através da massa de soldados estendida por quase três quilômetros.


Os Luna Wolves estavam à frente desta massa, milhares de combatentes em armadura branca, atravessando as plataformas, explosões irrompendo em suas fileiras, deixando para trás bolas de fogo e árvores de fumaça escura. Cada impacto estremecia o chão com uma pancada, e os cobria de poeira em seguida. Naves de assalto sobrevoavam-lhes as cabeças, manobrando por entre as formas trôpegas dos Titãs e dispersando as nuvens de fumaças em vórtices repentinos.


Os capacetes dos Astartes possuíam um transmissor de vox: ordens iam e vinham, um tanto distorcidas pela interferência.


Era a primeira guerra em grande escala que Loken e a Décima experimentara desde Ullanor. Pequenos conflitos até então, nada desafiador. Loken estava satisfeito em ver que sua coorte não estava enferrujada. O regime de treinamentos e exercícios que adotara garantiram-lhes o preparo e o comprometimento com os quais se comprometeram horas atrás, em suas juras de momento.


Ullanor foi glorioso, um esforço árduo e contínuo para desmantelar e sobrepujar um império bestial. Os peleverdes eram inimigos perigosos e resilientes, mas os Astartes os aleijaram e marcharam sobre as cinzas de seus covis. O Comandante conquistara o território através de sua estratégia favorita: a ponta de lança direto na garganta. Ignorando as hordas peleverde, em número cinco vezes maior, atacara diretamente o Chefe e seus associados, desorientando os inimigos.


O mesmo ocorreria aqui: cortar a cabeça e deixar o corpo convulsionar e morrer. Loken e seus homens, bem como as máquinas de guerra que davam-lhes suporte, eram a ponta da lâmina desembainhada para tal objetivo.


Mas era diferente de Ullanor. Sem lamaçais e barricadas de argila, fortalezas improvisadas de metal e arame farpado, nem explosões de pólvora negra ou gritos das bestas inimigas. Não era um conflito bárbaro, decidido por espadas e truculência.


Era uma guerra moderna em um lugar civilizado. Homem contra homem, dentro das instalações de um povo culto. O inimigo possuía artilharia e armas de fogo tecnicamente equiparadas àquelas da Legião, bem como as habilidades e treinamento necessários para tal. Sob a lente esverdeada do visor, Loken viu homens 
nos acessos inferiores do palácio alvejando-o com rajadas de energia. Veículos com armas teleguiadas, artilharia automatizada, plataformas com quatro ou mesmo oito bocas de fogo emparelhadas, movendo-se sobre pernas hidráulicas.

Completamente diferente de Ullanor. A campanha fora uma provação. Seria um teste desta vez. Inimigos semelhantes, em igualdade de condições.


Exceto pela tecnologia bélica, o inimigo carecia de uma qualidade essencial, fortemente guardada em cada uma das armaduras autopropelidas Mark IV: a carne e o sangue geneticamente alterado dos Astartes. Modificados, melhorados e pós-humanos, os Astartes eram superior a tudo que enfrentaram ou viriam a fazê-lo. Nenhuma força da galáxia se equiparava às Legiões, a menos que as estrelas se extinguissem, a loucura tomasse conta, e as regras do jogo virassem de ponta cabeça. Como dissera Sedirae uma vez: "A única coisa que pode derrotar um Astartes é outro Astartes", para divertimento de todos, visto ser algo impossível de acontecer.


O inimigo - que usava armadura magenta com detalhes em prata, conforme observara Loken ao remover o elmo - manteve firmemente sua posição nos portões do palácio. Eram altos, de peito e ombros largos, no auge de sua compleição física, mas nem o mais alto deles alcançava o queixo de um dos Luna Wolves. Era como lutar contra crianças.


Crianças fortemente armadas, diga-se de passagem.


Através da fumaça e dos impactos das explosões, Loken guiou os veteranos do Primeiro Pelotão Tático da Décima Companhia, o Hellebore, através das escadarias. Gigantes em armadura perolada, com o símbolo do lobo negro em suas placas de ombro, cujo avanço foi recebido pelos tiros advindos dos portões adiante. Algum tipo de morteiro automático disparava grandes projéteis em cadência lenta e contínua, e o calor de suas descargas chegava a distorcer o ar noturno.


Através do rádio, Loken ouviu a ordem do Irmão-Sargento Jubal, no lacônico dialeto de Cthonia, seu mundo natal, linguagem que os Luna Wolves empregava em combate: "Matem-no!"


O irmão-em-armas portando o canhão de plasma obedeceu sem hesitar. Por milésimos de segundo, um feixe de luz interligou o cano de sua arma até o morteiro, então o engenho engolfou a fachada do palácio em chamas amarelas.


Dezenas de soldados inimigos foram atingidos pela explosão, lançados ao ar e caíram sobre os degraus, mortos e alquebrados.


"Avançar!", gritou Jubal.


Disparos arranhavam-lhes a blindagem. Loken sentiu o impacto sutil de um deles. O irmão Calends cambaleou e caiu, mas ergueu-se quase imediatamente.


Loken viu o inimigo dispersar ante ao avanço. Sacou o bolter - com o guarda-mão trincado por um machado peleverde, que não quisera consertar - e disparou meticulosamente, sentindo o coice da arma a cada tiro. Projéteis de bolter são explosivos; aqueles que ele atingiu rompiam-se como bolhas ou frutas maduras. Vapores se erguiam dos cadáveres.


"Décima Companhia!", gritou Loken. "Pelo Mestre da Guerra!"


O grito de guerra não era muito conhecido, devido à sua novidade. Era a primeira vez que Loken o entoara em combate, a primeira oportunidade desde seu surgimento, após Ullanor.


Pelo Imperador. O verdadeiro Imperador.


"Lupercal! Lupercal!", responderam os Wolves, respondendo com o antigo brado, nome de seu amado comandante. Os clarins dos Titãs ressoaram.


Eles adentraram o palácio; Loken parou diante de um dos portões, apressando os companheiros e avaliando cuidadosamente o avanço da força principal. Os tiros continuavam a recebê-los, vindos das torres e varandas acima. Ao longe, um globo luminoso subiu aos céus, brilhando intensamente; os visores do capitão escureceram automaticamente.O chão tremeu e um barulho trovejante os alcançou. Uma nave de grande porte fora atingida e mergulhara nos limites da Cidade Alta. Guiadas pela luz, as torres fototrópicas estremeceram e giraram em seu eixo.


Vieram os relatórios. A Quinta Companhia, comandada por Aximand, assegurara o Setor Administrativo e o pavilhão de lagos ornamentais a oeste; os homens de Torgaddon estavam atravessando os bairros inferiores, arrasando os blindados em seu caminho.


Loken olhou para o leste. A três quilômetros dali, após uma das plataformas de basalto, tropas marchando e Titãs abrindo fogo, a companhia de Abaddon, a Primeira, cruzava as fortificações mais distantes do palácio. Loken ampliou sua visão, identificando centenas de armaduras brancas atravessando fumaça e fogo inimigo. Diante deles, o pelotão principal de Terminators, o Justaerin. Armaduras negras como a noite, como se pertencessem a outra legião.


"Loken para a Primeira. A Décima entrou".

Houve uma pausa, e um pouco de estática. "Loken, Loken... estás tentando me humilhar com tua diligência?", respondeu Abaddon.

"De forma alguma, Primeiro Capitão", disse Loken. Havia uma rígida hierarquia na Legião, e embora fosse um oficial superior, tinha grande admiração pelo Primeiro Capitão. De todo o Quatrilho, apenas Torgaddon nutria verdadeira amizade com Loken.

Sejanus morreu, pensou Loken. A formação do Quatrilho mudaria em breve.

"Estou brincando com você, Loken", a voz de Abaddon era tão grave que algumas vogais eram distorcidas pelo vox. "Te encontro diante do falso Imperador. O primeiro que chegar lá poderá iluminá-lo".

Loken tentou disfarçar o sorriso. Ezekyle Abaddon jamais o provocara antes. Sentiu-se lisonjeado. Ser escolhido para a ofensiva, e agora cair nas graças da elite, era o sonho de qualquer capitão.

Recarregando a arma, Loken entrou no palácio, pisoteando os cadáveres inimigos. As placas de pláster das paredes internas tinham desabado, e seus escombros se desintegravam sob seus pés. O ambiente estava tomado pela fumaça, e seu visor oscilava tentando compensar e fornecer leituras claras.

Continuou pelos corredores, seguindo os tiros que ecoavam desde as entranhas do complexo. O corpo de um de seus companheiros jazia em meio a corpos menores, como se não se fizesse parte do cenário. Marjex, um dos Boticários da Legião, ajoelhado sobre ele; virou-se com a aproximação de Loken, e meneou a cabeça.

"Quem é?", perguntou Loken.

"Tibor, do Segundo Pelotão", respondeu Marjex. Loken franziu o cenho ao ver o ferimento na cabeça que derrubara Tibor.

"O Imperador conhece seu nome", disse Loken em seguida.

Marjex assentiu, e ativou umas das ferramentas do narthecium; iria remover o valioso gene-seed de Tibor, para que fosse devolvido aos repositórios da Legião.

Loken deixou o Boticário continuar seu trabalho, e apressou-se. Em um grande salão adiante, paredes altas decoradas com afrescos mostravam cenas familiares de um Imperador em um trono dourado. "Como são cegos", pensou Loken. "Um dia, um único dia com os reiteradores, e eles entenderiam. Não somos o inimigo. Somos seus iguais, e trazemos conosco uma mensagem de redenção. A Longa Noite terminou. O Homem caminha pelas estrelas novamente, e o poder dos Astartes mantém-no a salvo".

Em um largo túnel de prata entalhada, encontrou membros do Terceiro Pelotão Tático, o Locasta - sua unidade favorita em toda a Décima. Seu comandante, o Irmão-Sargento Nero Vipus, era seu melhor e mais antigo amigo.


"Como está o humor, Capitão?", perguntou Vipus, cuja armadura madrepérola estava coberta por sangue e fuligem.

"Fleumático, Nero. E você?"


"Colérico. Irado, na verdade. Perdi um homem, e tenho duas baixas. Há algo na próxima na próxima passagem. Pesado. Cadência de tiro inacreditável".


"Tentou explodi-lo?"


"Duas ou três granadas, sem efeito. Não dá para ver nada. Garvi, ouvimos que eles são chamados Invisíveis. Os que mataram Sejanus. Eu estava pensando se-"

"Deixe os pensamentos comigo", interrompeu Loken. Quem caiu?"


Vipus se encolheu. Era um pouco mais alto que Loken, e seu movimento fez as placas de sua armadura se chocarem. "Zakias".


"Zakias? Não..."

"Despedaçado diante dos meus olhos. Sinto a mão da nave em mim, Garvi".

A mão da nave. Um velho ditado. A nave do Comandante era chamada Espírito Vingativo, e em momentos críticos, os Wolves costumavam nomeá-la como a um encanto, como a um totem de retaliação.

"Em nome de Zakias", rugiu Vipus, "Vou encontrar esse bastardo invisível e-"

"Acalme os ânimos, irmão. Não há uso para ele aqui", disse Loken. "Cuide dos seus feridos enquanto eu dou uma olhada".

Vipus assentiu e dirigiu-se aos seus homens. Loken apressou-se, em direção à passagem.


Era a intersecção de quatro corredores; fria e imóvel em suas leituras. 

Fumaça deslizava entre as colunas, e o chão de pedra estava destroçado por milhares de impactos. O corpo despedaçado de Zakias ainda jazia no meio do cruzamento, um amontoado de plastiaço branco e carne ensanguentada.

Vipus estava certo. Não havia sinal do inimigo. Nenhum sinal de calor, nem de movimento. Mas analisando a área, Loken viu milhares de cápsulas metálicas de munição, espalhadas além de uma antepara do outro lado. O assassino estaria escondido ali?

Loken se abaixou, pegou um pedaço de pláster, e jogou-o na área aberta. Houve um clique e uma rajada interminável de disparos atravessou a passagem. Durou cinco segundos, suficiente para milhares de projéteis serem disparados, e as cápsulas ejetadas se espalharem além da antepara.

Os disparos cessaram, após castigar ainda mais o piso e o cadáver de Zakias; os vapores de fyceleno tomaram o ambiente.

Loken esperou, e ouviu o rangido e o clique metálico de um sistema de carregamento automático. Pôde ver o calor da arma, desaparecendo, mas nenhum calor corporal.

"Já ganhou uma medalha?", perguntou Vipus, se aproximando.


"É só uma arma automática", respondeu Loken.


"Menos mal", disse Vipus. "Depois das granadas que lançamos naquela direção, estava pensando se esses Invisíveis não seriam "Invulneráveis" também. Vou chamar os Devastadores para-"


"Só me dá um sinalizador", disse Loken.


Vipus removeu um das grevas e entregou-o ao seu capitão, que o acendeu com um gesto brusco, e lançou-lhe do outro lado. Deslizou, ardendo e chiando, e passou pela arma automática.


Após um rangido mecânico, a salva interminável rugiu em direção ao sinalizador, que ricocheteava sob os impactos que atingiam o solo.


"Garvi-", Vipus chegou a dizer.

Loken correu e cruzou a passagem, encostando-se na antepara. A arma ainda estava quente. Deu a volta e viu o engenho, montado em uma casamata, disparando em direção à chamas do sinalizador. Aproximou-se e arrancou um punhado de cabo ligados à sentinela.

"Estamos seguros!", avisou Loken. O Locasta avançou.

"Costumam chamar isso de exibicionismo", alertou Vipus.

O capitão liderou o Terceiro Pelotão até entrar em um luxuoso aposento. Outros aposentos, igualmente luxuosos, estendiam-se pelo corredor. Tudo estranhamente parado e silencioso.

"Para onde?", perguntou Vipus.

"Vamos achar esse 'Imperador'", respondeu Loken.

Vipus riu. "Só isso?"

"O Primeiro Capitão apostou que eu não chegaria primeiro".

"O Primeiro Capitão, hein? Desde quando Garviel Loken fica de conversinha com ele?"

"Desde que a Décima invadiu o palácio antes da Primeira. Não se preocupe, Nero, vou me lembrar de vocês, plebeus, quando for famoso".

Nero Vipus gargalhou, e o ruído abafado que saiu de seu elmo foi como o rugido de uma besta moribunda.

O que houve a seguir não provocou-lhes o riso.


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E com a célebre frase de Garviel Loken, inicia-se uma das maiores sagas da ficção científica - se não em excelência, ao menos em extensão. "Eu estava lá quando Horus matou o Imperador" não é apenas uma frase de efeito, carrega consigo o maior dos paradoxos deste universo: um figura divina, derrotada pelo seu filho mais virtuoso e mais amado.

É por ser paradoxal que a série precisou de dezenas de títulos para explicar seus pormenores; e embora cada um deles tenha sua autonomia, percorrê-los em uma ordem determinada não apenas nos enriquece a narrativa, mas permite acompanhar os fatos sob a perspectiva de um personagem ou de uma Legião.

Os quatro primeiros títulos da série servem como um excelente prelúdio:

- Horus RisingFalse Gods (2006), sobre Horus Lupercal e seus Luna Wolves/Sons of Horus; 

- Galaxy in Flames (2006); sobre o massacre em Istvan III, o início da heresia;

- The Flight of Eisenstein (2007); que aborda aqueles que não se submeteram à vontade de Horus, e tentam sobreviver e alertar o Imperium.

Acrescente-se o sétimo livro - Legion (2008) - à lista, e você terá informações suficientes para procurar seus títulos preferidos, ou mesmo avançar para a série que a sucede, Siege of Terra.

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