A objeção de Ninan

Outra crítica feita à utilidade do Argumento do Operador às teorias relativistas é a de Ninan, que se baseia na relação entre a semântica composicional e a natureza dos objetos de uma asserção; para o autor, esta relação não é tão direta quanto se pensa. Considere-se que

  1. Se um indexical contém um parâmetro x, então a teoria semântica implica que a verdade dos objetos de uma asserção vão variar de acordo com x; e
  2. Se um indexical não contem x, então a teoria semântica implica que a verdade dos objetos de uma asserção não variam de acordo com x.
Os dois "dogmas kaplanianos" acima, são falsos, de acordo com Ninan. Partindo da semântica de Kaplan (1989), o autor destaca que os conteúdos kaplanianos cumprem tanto o papel de valor semântico composicional de uma sentença - o gatilho para operadores modais, expressões temporais, locais, etc); quanto o papel de componentes assertóricos, isto é, contribuem com a própria informação comunicada pelas asserções. Esta dupla função vai de encontro a uma concepção mais tradicional, na qual existem dois tipos de constituintes exercendo tais funções: proposições relativizadas, os conteúdos relacionados a mundos possíveis, locais, tempo e padrões de precisão; e proposições tradicionais como componentes assertóricos. Dito com outras palavras, Ninan afirma que não há conexão direta entre a semântica e os objetos de asserção, de forma que "a questão do que é comunicado por uma sentença é relativamente independente do que diz nossa semântica composicional em relação a aspectos como modalidade e congêneres"¹. Mais uma vez, o Argumento do Operador perde sua eficácia da defesa de uma teoria relativista.

No que concerne ao segundo dogma, Ninan enumera filósofos como Stanley (2005a) e King (2003), a fim de mostrar que é possível construir teorias nas quais embora dados parâmetros não se encontrem nos indexicais, os objetos da asserção não são se referem a estes parâmetros². E conclui que "[...] podemos considerar modais, tempos e expressões locais como operadores, e ainda termos proposições como objetos de uma asserção"¹. Também podemos tratá-los como quantificadores, e ainda assim considerar os objetos de uma asserção como elementos cujos valores de verdade variam de acordo com mundos e tempos possíveis.

Minha resposta a esta objeção é similar a apresentada contra Lopez de Sá: embora um pluralista semântico não possa utilizar o Argumento do Operador no tocante a natureza dos constituintes que são objetos de uma asserção, ele ainda pode utilizá-lo para lidar com a natureza dos constituintes que são valores semânticos das sentenças. Então mesmo que o primeiro dogma kaplaniano seja falso, o Operador ainda cumpre um importante papel na defesa do relativismo. Isso manteria o primeiro dogma kaplaniano a salvo dos argumentos de Ninan. Além disso, de acordo o Argumento do Operador, se certas expressões de uma linguagem são operadores de algum tipo, então precisamos introduzir parâmetros em seus indexicais correspondentes. Ora, o segundo dogma não diz respeito a operadores que possuem parâmetros, pelo contrário; uma vez que o dogma completamente independente do Argumento do Operador, este permanece como um dos argumentos viáveis em defesa do relativismo.

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